“Vou-me embora pra Pasárgada”
Ou
“La em Colombo” ?
A harmoniosa influência de Manoel Bandeira na poesia
de Adriano Sales:
(Por Nívea Petribu -
Poetisa e Escritora)
Assim como na Pasárgada de Manoel
Bandeira, o Engenho Colombo de Adriano Sales caminha para o arcadismo, a fuga
era em direção ao bucólico e rural. Em uma época de adensamento urbano, o campo
era visto como forma de inspiração e pureza.
O ato de caminhar poeticamente movendo-as
dos lugares comuns. A poesia é construída com redondilhas, da mesma
forma que os poemas árcades, porém a fuga é para uma cidade
tecnológica. Como visto nos versos
Pasárgada era uma cidade persa e
também foi capital do Primeiro Império Persa, cuja construção
iniciou-se pelo imperador Ciro II. Como o próprio poeta explicou, a imagem
dessa cidade ficou em sua cabeça desde a adolescência até a composição do
poema.
Uma das figuras mais marcantes nesse
poema é o escapismo. Elemento comum na literatura, teve forte influência na
produção do romantismo e do arcadismo. Para os românticos, o escapismo era uma
forma de aliviar a dor do amor não correspondido, procurando refúgio em lugares
distantes ou na morte.
O Engenho Colombo, no poema de Adriano Sales permeia para
a mesma condição, subtraindo apenas o refúgio de morte. Talvez esse tenha sido
um cuidado ‘inconsciente’ do autor, para dar sua pitada pessoal e especial ao
tempero poético. Colombo traz o sonho da renovação do dia na bela rotina de um
pacato lugar de tranquilidade, quando depois de toda narrativa do cotidiano o
autor se vê novamente reiniciando o poema próximo ao ponto final, quando fala: “Novamente
me deito na beira da touceira, Mais um dia começa em Colombo”.
LÁ EM COLOMBO
Quero
ir a Colombo,
Lembrar
o tempo de pequeno
Novamente
deitar na beira da touceira
Olhar
os carros passarem na pista
Chamar
Ana para brincar
Ver
os meninos de cima da barreira
Sentir
cheiro de comida caseira
Subir
no pé de goiaba
Ao
lado da ribanceira
Quero
ir a Colombo
Pegar
araçá na roça
O povo
passa me olhando
Vó
me chama pra comer
Volto
a correr no campo
Porteira
abre e se fecha
Meninas
se mostram faceiras
Ao
som das cigarras
No
final da tarde
Quero
ir a Colombo
Ver
o crepúsculo elegante
Cheiro
de café pisado no pilão
Pão
assado na brasa
Aroma
de cuscuz no ar
Depois
de comer, ouvir vô no terraço
Com
suas estórias pra contar
Quero
ir a Colombo
Acordar
ao grito do galo
E
abrir a porta de manhãzinha
Sentir
o orvalho e o sereno
Gotas
d’água nas folhas
Brisa
fria ao som das vacas
Povo
vai trabalhar
Cheiro
de café pisado no pilão
Lenha
acesa no fogão
Salame
do grosso pendurado na cozinha
Vó
me chama para comer
Bíblia
na mesa
Primos
passando
Novamente
me deito na beira da touceira
Mais
um dia começa em Colombo.
(Adriano
Sales – 2001 – Livro: “Eu – Poesias em Vias – Publicado em 2015, Edições
Rascunho. @adrianosalespoeta )